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15% dos professores do Centro-oeste sofrem de Burnout

Cartilha sobre Burnout em professores (distribua!)

domingo, 29 de junho de 2008

Novas e recentes descobertas sobre a síndrome de burnout

Burnout: quando a chama apaga
Exauridos física e emocionalmente, profissionais adotam comportamento frio e cínico no trabalho
Sílvia Lisboa | silvia.lisboa@zerohora.com.br

Três em cada 10 profissionais brasileiros estão passando por uma preocupante mudança de comportamento causada pelo estresse crônico no trabalho. Eles não faltam ao serviço, mas passam a encarar as tarefas e os colegas com frieza e distanciamento. Desprezam as conquistas e vêem os novos desafios como inalcançáveis. A eficiência cai e, com freqüência, sentem-se péssimos por isso, mas não conseguem mudar. A chama do idealismo que os mantinha na luta se apagou.

Desde a década de 70, pesquisadores tentam entender como e por que bons trabalhadores acabam se tornando mortos-vivos no emprego, condição que médicos e psicólogos chamam de síndrome do burnout. Oriunda do inglês, a expressão significa fogo incontrolável e destruidor – o que em português passou a ser sinônimo de esgotamento. Diferentes teorias mostram que o estágio mais devastador do estresse que atinge 30% da população economicamente ativa brasileira, segundo uma pesquisa inédita da International Stress Management Association (Isma-BR), tem uma íntima relação com baixos salários e longas jornadas de trabalho.

Agora, um novo estudo conduzido pelos maiores especialistas em burnout do mundo, os psicólogos Christina Maslach e Michael Leiter, revela que esses não são os fatores cruciais. Após avaliar 992 funcionários de uma universidade, eles descobriram que a falta de consideração e as injustiças no ambiente laboral estão na origem do comportamento zumbi assumido por profissionais esgotados.

– O principal fator é a falta de transparência sobre os valores corporativos. Quando as organizações falham nesse quesito, os funcionários se tornam mais suscetíveis ao burnout – detalha Leiter, co-autor do livro traduzido para o português Trabalho: Fonte de Prazer ou Desgaste?

Leiter disse que a percepção do funcionário de que ele está sendo avaliado e tratado injustamente apareceu no estudo de muitas formas: tanto na figura de um supervisor desrespeitoso quanto na recusa mal explicada de uma promoção. A má notícia é que ninguém está imune ao estágio mais avassalador do estresse. Estudos mostram que os ingredientes que diferenciam um profissional no mercado – como a motivação, por exemplo - podem ser os mesmos que o levam ao esgotamento. Outrora idealistas, os trabalhadores acabam desenvolvendo mecanismos de defesa, como a frieza e o cinismo depois de anos de frustração e falta de reconhecimento.

Essa pode ser uma das explicações para o alto índice de burnout encontrado por uma pesquisadora entre professores da rede pública no Brasil. Ao tentar identificar em mais de 8 mil docentes da Educação Básica de um estado da região Centro-Oeste a presença dos sintomas que caracterizam a síndrome do burnout, a pesquisadora da Universidade de Brasília (UnB) Nádia Leite descobriu dados estarrecedores. Cerca de 15,7% dos docentes tinha a síndrome e quase 30% apresentaram exaustão emocional em nível considerado crítico. Ou seja, estavam à beira do esgotamento total. A baixa realização profissional foi citada por 31,2%, enquanto 14% estavam distantes dos alunos.

– O burnout não é nem mais estresse. Com estresse, a pessoa luta. No burnout, ela desiste de lutar e perde as condições de se reabilitar sozinha. Mas continua trabalhando. Por isso, é uma desistência simbólica. Ela está e não está em sala de aula – explica a psicóloga Nádia Leite, colaboradora do Laboratório de Psicologia do Trabalho da UnB.

Até os anos 80, o estresse era considerado um inimigo a ser combatido. Na década seguinte, descobriu-se que havia também o estresse benéfico, aquele sentido às vésperas de um encontro amoroso ou do nascimento de um filho, por exemplo. Eliminá-lo, portanto, não era algo desejável. Especialistas, então, passaram a falar em controlar o estresse. Mas não demorou muito para se descobrir que o termo também era inadequado. Dominar as emoções significa o mesmo que reprimi-las, e fazer isso poderia ser ainda mais prejudicial à saúde.

Hoje é consenso de que a melhor atitude é administrar o estresse. Mas como saber antes quando se está à beira de um esgotamento físico e mental, o terrível burnout? Em geral, as pessoas têm dificuldades para perceber que estão no limite. Segundo a especialista em estresse Ana Maria Rossi, presidente da International Stress Management Association (Isma-BR), a maioria dos pacientes que chega a seu consultório já apresenta sintomas físicos. Outros, diz a especialista, acreditam que estão estressados quando não estão - uma pequena mudança na forma de encarar os tropeços da vida reverteria o quadro.

Para diagnosticar se um indivíduo sofre de estresse, os especialistas lançam mão de três métodos diferentes: autotestes, biofeedback e exames laboratoriais. O ideal, salienta Ana Maria, é uma combinação dos três. De fácil aplicação, os autotestes avaliam diferentes aspectos da personalidade do indivíduo, comportamento e a freqüência de sintomas físicos como perda de sono, alteração no apetite, ansiedade etc. Nos últimos anos, um novo ingrediente passou a figurar nas auto-avaliações. Reconhecendo o estresse como parte da vida moderna, os pesquisadores começaram a medir a capacidade do indivíduo de lidar com situações adversas. O método tem, porém, uma limitação. O fato de estar baseado apenas na percepção do indivíduo requer que ele não seja usado como único critério de diagnóstico.

A segunda técnica, conhecida como biofeedback, consiste na aplicação de sensores para medir processos fisiológicos, como a freqüência cardíaca, temperatura das extremidades, suor das mãos, tensão muscular, pressão arterial e atividade cerebral. Como nosso corpo transmite sinais elétricos, os eletrodos posicionados em áreas específicas conseguem atestar o grau de comprometimento do organismo com o estresse. Embora seja necessário o uso do equipamento, é possível verificar algumas medidas em casa (veja no quadro à direita como elas podem ser feitas).

Exames laboratoriais são a terceira arma para diagnosticar o estresse. Dois são os mais usados atualmente: medição da concentração do hormônio catecolamina na urina e do cortisol na saliva. Esses hormônios, assim como muitos outros, sofrem mudanças quando o corpo reage a situações tensas. Pioneiros na aplicação dos testes de saliva para medir o estresse, os cientistas do Laboratório de Estudo do Estresse (Labeest) da Universidade de Campinas (Unicamp) descobriram que a biologia sobre alterações de acordo com o grau e a causa de estresse. Em mulheres com endometriose (doença no qual o tecido que reveste o útero internamente se encontra fora da cavidade e provoca dores abdominais fortes) ou em vítimas de estresse pós-traumático, o nível de cortisol é abaixo do normal. Em vestibulandos e atletas, há um aumento da concentração do hormônio do estresse. Testes de saliva aplicados em 92 estudantes na véspera e no dia do vestibular mostraram que o nível do hormônio estava mais elevado em setembro, período das inscrições, do que no dia da prova. Para ser fiel, é necessário repetir o exame mais de uma vez ao longo do dia.

O cortisol é apenas um dos hormônios suscetíveis ao estresse. Apesar de ser mais fácil medi-lo, a professora de Biociências da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Regina Spadari, colaboradora do Labeest, salienta que o estresse provoca uma série de outras alterações no organismo. O aumento das taxas de cortisol favorece a elevação da glicemia, dos ácidos graxos, a concentração de tecido adiposo na região abdominal e a perda de massa óssea.

- Não se pode banalizar o estresse. É normal vermos pessoas dizerem "não tem nada, é só estresse". Estresse é sério, e pode causar várias doenças - alerta Regina.
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